O Governo húngaro diz que é um ensaio, mas se correr bem, os 150 metros de parede já em construção serão o primeiro pedaço do muro, polémico, planeado para a sua fronteira com a Sérvia e destinado a travar a entrada de imigrantes ilegais que surgem do lado sérvio.
Os trabalhos começaram na segunda-feira, anunciou o Governo de Budapeste através de um comunicado comum dos ministérios do Interior e da Defesa. São eles os responsáveis pela obra, orçada em 21 milhões de euros e que já foi aprovada, no dia 6 de Julho, pelo Parlamento.
Na segunda-feira, um grupo de 43 soldados, munidos de maquinaria pesada, começou a abrir uma vala de 150 metros de comprimento nos arredores de Mórahalom (Sul da Hungria). Quando o Parlamento, dominado pelas forças da direita populista do primeiro-ministro, Victor Órban, aprovou o muro também deu ao Governo autorização para intervir na fronteira.
O muro de Órban terá 175 quilómetros de comprimento e quatro de altura, ao longo da fronteira com a Sérvia, um país que aspira a juntar-se à União Europeia e que já apresentou um protesto por este plano.
A chanceler alemã, Angela Merkel, disse que a ideia do primeiro-ministro húngaro não faz sentido, mas este está irredutível.
“Os países da União Europeia estão à procura de uma solução [para o problema da imigração] mas a Hungria não pode esperar. É o país que está a sofrer a maior pressão migratória”, disse o ministro dos Negócios Estrangeiros, Peter Szijjarto, na conferência de imprensa em que anunciou o encerramento da fronteira com a Sérvia.
O Governo de Budapeste esclareceu que a construção do muro não viola qualquer tratado internacional ou europeu e que o seu objectivo é, depois, manter as fronteiras com a Sérvia abertas. Órban quer travar o fluxo inesperado de gente que, para chegar à União Europeia, atravessa a Sérvia até à fronteira húngara. Se em 2012 apenas duas mil pessoas cruzaram ilegalmente a fronteira, no ano passado já foram 43 mil. E, este ano, o número já vai em 78 mil, sendo que 73 mil deles entraram pela Sérvia, a maior parte de forma ilegal e muitos pedindo asilo político à chegada; em 2014 o Governo de Budapeste concedeu asilo a 240 pessoas.
A grande maioria destes imigrantes não quer ficar na Hungria, pretende ali permanecer o tempo suficiente para organizar a sua ida para a Alemanha e Áustria. São oriundos de países em guerra, 75% deles são sírios e afegãos, segundo dados divulgados pela agência francesa AFP, mas há também iraquianos e cidadãos do instável Kosovo.
A Hungria tem sido criticada pela sua política de repatriamento de imigrantes ilegais. Num relatório recente da Aministia Internacional (AI) é dito que muitos dos que entram no país através da “rota dos Balcãs” são deportados de volta para Sérvia ou Montenegro, onde se inicia um círculo vicioso, pois as pessoas ficam
numa situação de “limbo legal”, passando a ser constantemente transferidas de centro de acolhimento em centro de acolhimento. Há quem tenha sido deportado “mais de dez vezes”, denuncia a AI.
Este não é o primeiro muro no território da Europa, que já esteve dividida em blocos que travaram uma Guerra Fria simbolizada pelo Muro de Berlim. Outro Estado-membro da União Europeia, a Bulgária, ergueu um muro ao longo de 30 dos 240 quilómetros da sua fronteira com a Turquia, para impedir a entrada de imigrantes, e esperava este ano prolongá-lo por mais 82 quilómetros.
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