THE BOW [HWAL] de KIM KI-DUK
Coreia do Sul, 2005, 89′ – cor
Nunca se disse tanto em tão pouco.
Um sexagenário (Jeon Seong-hwan) é o proprietário de um barco velho, estacionado em alto-mar, que aluga a grupos de pescadores. Com ele vive uma adolescente de 16 anos (Han), com quem pretende casar quando atingir a idade legal — 17. Num dos grupos de pescadores surge um rapaz, estudante universitário (Seo), que se interessa por ela. A rapariga parece corresponder. No entanto, sempre que os pescadores se querem aproximar demasiado da bela jovem, o velho usa o seu arco para os fazer mudar de ideias.
Quando nos deparamos com um filme em que meras trocas de olhares, sorrisos e lágrimas são capazes de contar, só por si, uma grande história de amor, então temos de reconhecer que estamos diante de uma pérola rara. The Bow é isso mesmo, um filme rarissimo, tanto pela sua originalidade como pela sua beleza.
A história de amor de um velho pescador e de uma jovem de 16 anos, que ele resgatou há dez anos e com quem pretende casar no seu próximo aniversário, poderia ter sido tratado de mil e umas maneiras, cheias de diálogos punjantes e performances avassaladoras. Mas Kim Ki Duk é um cineasta-poeta e aqui só é permitido falar quem está fora da história. Os personagens principais não abrem a boca. Não precisam. Comunicam através do olhar, do silêncio e de um arco, que tanto serve para fazer música, ao som das águas, como para espantar todos aqueles que quiserem quebrar esta união insólita.
Só que há um dia em que tudo é questionado. Parece que o silêncio já não diz tudo, e que há mais para descobrir, a ver. De dos, o jogo passa a três, e com este novo jogador tudo se complica. Os sorrisos tornam-se lágrimas, a dor invade caras alegres. A jovem percebe a importância do sexo, o velho percebe a sua impotência diante o fulgor dos novos. E quando tudo podia acabar mal, de forma corriqueira e pouco interessante, Kim Ki Duk entra no universo mistico e fantástico e desenha um final como poucos poderiam imaginar. Um final tão belo que até custa a acreditar. No final, The Bow fica na memória como um filme inesquecivel, e Kim Ki Duk consolida a sua imagem de ave rara no universo cinematográfico.
Um filme assustadoramente belo.
Han Yeo-reum (a rapariga) passa todo o filme com um sorriso vazio no rosto. Poderíamos admitir que tal deriva da particular condição da personagem, isolada num barco em alto-mar desde tenra idade, mas Kim Ki-duk não está interessado em explorar esses aspectos de psicologia. A expressão da actriz é a mesma de «Samaria», onde interpreta uma estudante que se prostitui para juntar dinheiro para uma viagem à Europa.
Kim Ki Duk nasceu a 20 de Dezembro de 1960 na Coreia do Sul. Recebeu o Korean Film Foundations Prize pelo argumento de Trespassing. The Isle (2000) é um dos filmes de culto do Fantas. Em 2003 surpreendeu com Spring, Summer, Fall, Winter… and Spring e, um ano depois, com 3-Iron. Seguiram-se The Bow e, em 2005 Samaritan Girl. Time foi um dos grandes filme de Cannes 2006.
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